Origem: A Ovelha Crioula é considerada uma raça local, com origem dos rebanhos introduzidos pelos jesuítas no Rio Grande do Sul, durante o século XVII e do cruzamento com outras raças importadas a partir da colonização portuguesa. Estudos conduzidos na Embrapa Pecuária Sul revelam parentesco desses ovinos, com a raça hispânica Lacha, além de Romney Marsh e Corriedale.
Assim, a ascendência da Ovelha Crioula teria como antecessor mais remoto Urial ou Carneiro
selvagem do sudoeste asiático, que originou um ovino primitivo (Ovis aries palutris), que se
estendeu pela Europa e Oriente Médio, dando origem ao Ovis aries pirenaicus, ancestral
direto da raça Lacha. A Ovelha Crioula está classificada como raça rara e conserva traços
dos ovinos primitivos que lhe deram origem.
Em 1982 começou a ser preservada pela Embrapa Pecuária Sul, em Bagé, RS. Foram
identificadas quatro variedades dessa raça: Fronteira, localizada ao sul do estado do Rio
Grande do Sul; Serrana ou Crioula Preta, no nordeste gaúcho e planalto catarinense; Crioula
Zebura ou Ovelha de Presépio, ao sul do Paraná e Crioula Comum ou Ovelha Ordinária,
localizada acima do Paraná. Atualmente, todas as variedades podem também ser
encontradas nos Estado de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Goiás, São Paulo e
Minas Gerais. A Ovelha Crioula representa uma enorme importância social nas comunidades
onde outros animais da espécie não sobrevivem e contribui para a manutenção do homem no
campo.
Aspecto Geral: A Ovelha crioula tem como características a cara e as extremidades descoberta e velo formado por mechas de aspecto cônico, de coloração variando do branco ao preto, incluindo tons intermediários. O velo se abre na linha dorso-lombar, caindo lateralmente ao corpo, como uma capa, o que contrasta com a escassa cobertura ventral. Possui tamanho médio, quando comparada às demais raças ovinas brasileiras. São animais ativos, com acentuado comportamento gregário e aguçado instinto de defesa, porém são de fácil manejo.
Aptidão: Produção de lã para artesanato e tapeçaria industrial (carpet wool). Carne magra, com maciez e sabor diferenciados. Pele de qualidade industrial superior, no que tange à resistência e suavidade. Dada a variedade natural de cores e acentuado comprimento de mecha, os pelegos têm demanda popular.
Adaptação: É rústica e sóbria, adaptando-se a diferentes condições de clima, solo e vegetação. Sobressai-se na espécie quanto à resistência a endoparasitas e problemas podais, quando em condições adversas.
Reprodução: Tem puberdade precoce; as borregas aos sete e, os machos, a partir dos quatro meses, em condições naturais de criação. Geralmente, o número de cordeiros desmamados é alto, devido ao elevado vigor destes e habilidade materna. Destaca-se ainda pela longevidade.
Cabeça: tamanho proporcional ao corpo, longilínea; perfil reto ou semi-convexo, sendo este mais acentuado nos machos. Espaço inter-fossas nasais, lábios e conjuntivas parcial ou totalmente pigmentados, sendo raramente despigmentados. Nos machos frequentemente se observa um acúmulo de gordura de reserva na nuca.
As orelhas podem ser pequenas e inseridas horizontalmente, de tamanho mediano e ligeira inclinação ou grandes e pendentes, conforme sua origem Fronteira e Comum, Serrana ou Zebua. Pode ser aspada ou mocha. O macho, quando aspado, apresenta um par de chifres de secção triangular, que se abre lateralmente à face. Quando da existência de um par (policerismo), os quais são todos de secção cilíndrica, o superior apresenta-se ereto e, o inferior, curvado em direção à face. As fêmeas, quando aspadas, apresentam chifres de tamanho relativamente menor. Os chifres podem ser pigmentados ou não, rugosos ou lisos. Olhos vivos, podendo possuir a pálpebra superior partida. Os animais desprovidos de chifres podem apresentar topete, formado por mechas longas que cobrem os olhos e o chanfro. Face coberta por pelos lustrosos, de variada coloração.
Pescoço: delgado, cilíndrico, de tamanho proporcional ao corpo, sendo inserido em posição baixa em relação às cruzes, mantendo a cabeça elevada em relação à linha de lombo.
Tronco: peito estreito e deprimido; corpo mais desenvolvido na parte posterior e estreito na região das paletas. Linha dorso lombar reta, com ligeira inclinação em direção às cruzes, algo saliente. Garupa curta, com pouca inclinação e geralmente angulosa.
Membros: Bem aprumados, delgados, porém fortes, cascos podendo ser escuros ou claros. Os posteriores podem ser algo fechado e coberto por lanilha até a quartela. Existe uma variedade enorme de tons dos pelos que revestem os membros, desde uma coloração uniforme (branca, preta, castanha ou ocre), até manchas e pintas diversas, sendo comum nos animais de tons escuros uma cinta branca em um ou mais membros.
Cauda: Delgada, permitindo a palpação das vértebras, mesmo quando gorda.
Escroto: Tamanho discreto, com perímetro variando de 20 a 26 cm para borregos e em torno de 35 cm para carneiros.
Mamas: Bem desenvolvidas, podendo ocorrer mamilos suplementares.
Velo: Pode ser formado por dois tipos de fibra. Um tipo constituído por mechas cônicas e longas, com pouca densidade e diâmetro muito variável, lisas ou discretamente onduladas. Junto à pele pode ocorrer uma camada de lã, composta de fibras mais finas e curtas, com muitas ondulações irregulares, também denominada lanilha. É de toque que varia de áspero a modernamente suave, sendo pobre em suarda e leve (1,2 a 2,5 kg). A cor pode variar do branco ao preto, incluindo diversos tons intermediários, como por exemplo, amarelo, cinza, marrom, ocre e grisalho, e as todas combinações possíveis. Independente da cor, pode apresentar-se manchado, com bandas diferentes na mecha (aguti). Os cordeiros geralmente apresentam a lã encaracolada e garreio, o que deve desaparecer após a primeira tosquia quando a cor da lã deste também pode mudar.
Defeitos Eliminatórios: Desvios de coluna (cifose, lordose e escoliose), malformações
mandibulares (prognatismo, retrognatismo, agnatismo e desvio lateral), perfil ultraconvexo,
defeitos genitais (criptorquidia, hipoplasia, monorquidismo, assimetria testicular), garupa
muito inclinada, cauda larga, excesso de cobertura de lã na face e nos membros dianteiros.
A desuniformidade acentuada de finura de lã entre as diferentes partes do corpo é caráter
eliminatório.
Criadores: Conforme dados coletados pela EMBRAPA Pecuária Sul, existem pelo menos 23 criadores de ovinos crioulos no Brasil, totalizando mais de 2500 ovinos. A grande maioria dos criadores encontra-se distribuída nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Há, porém, registros para os Estados de Mato Grosso e Minas Gerais. Os rebanhos, em sua maioria, são de pequenos a médio porte, com número inferior a 200 ovinos. Com a continuidade do levantamento desses dados, espera-se um aumento significativo dos números correspondentes. Grande parte dos criadores já se encontram hoje associados à ABCOC. Espera-se que com o trabalho de divulgação da ABCOC, não somente o número de criadores bem como o número de ovinos por propriedade aumente substancialmente, a curto prazo.
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